É muito complicado falar de alguém que a gente gosta, olha que refiro-me a gente que vive com a gente quase o tempo todo. Imagine falar de uma figura pública que deixou sua marca no imaginário de jovens que viveram intensamente as décadas de 80 (como eu) e de 90 do Séc. XX. Ok, nem todo mundo o curte, gosto não se discute, e tenho que respeitar. Mas, enfim, ainda ouviremos falar muito dele.
Antes de me metralharem, se tiverem algo a acrescentar nos comentários sobre ele, já me ajuda pra caramba.
Era um carioca, nascido em 27/03/1960, que com o passar do tempo só queria entender a fúria do mundo. E a gente mal sabia que com suas músicas ele abalaria o cenário musical brasileiro em meio à Rock In Rio, Diretas Já e o boom de, sei lá, uma centena de bandas de um hit só que imperavam nas rádios (não que eu as odeie, pelo contrário, curto). Anteriormente ele tinha outra banda muito conhecida em Brasília, Aborto Elétrico (de onde surgiriam as bandas Legião Urbana e Capital Inicial) que é, como diz o Thiago Leifert, "mito".
No primeiro disco, não tinha como a gente não tirar "Será" da cabeça. Quando ele gravou o Acústico com a Legião em 1991, foi direto sobre a versão que a Simone fez pra mesma música: "nos perderemos entre monstros", imitando a voz dela, até falou que gostou, mas preferiu a versão da Cássia Eller pra Por Enquanto, que está neste mesmo primeiro disco e só tocou muito em rádios lá pra 1990 (pelo menos nas FM's daqui de Santos). É o disco que mais se aproxima musicalmente da época de Aborto, talvez pelo intervalo entre os raríssimos registros dos mesmos e o Legião Urbana álbum. Particularmente, adoro Por Enquanto.
Mas foi com o segundo, Dois, que ele mostrou a quem veio. Lembro até hoje da Legião participando de um mico no programa do Chacrinha em 1986, gorrinhos de Papai Noel em meio à conquista do disco de ouro por este mesmo disco. Eu ouvi muito este disco até acabar com 15 agulhas do velho toca-discos Sonata lá pra 1989. Na época eu tinha uma estranha guerrinha com meu irmão mais velho por conta de gosto musical: ele já era fã declarado de Legião e eu foi pego pela febre RPM, aí já viu. Plantas Embaixo do Aquário eu uso como um mantra quando uma tempestade pessoal se aproxima ("Aceite o desafio e provoque o desempate/Desarme a armadilha e desmonte o disfarce/Se afaste do abismo/Faça do bom senso a nova ordem/Não deixe a guerra começar"). Eduardo e Mônica, Quase Sem Querer, Tempo Perdido... o disco inteiro na verdade é foda.
Agora, um disco que não envelhece mesmo: Que País É Este (1978/1987)! Durante estas eleições não tinha outra música que saísse da minha mente como a faixa-título, considerando as baixarias recentes dos 2 maiores partidos no Brasil. E este disco me marcou pela facilidade de gravar verso a verso uma certa música de cerca de 9 minutos que narrava vida e morte de um tal de João De Santo Cristo (quem curte sabe de qual música estou falando). Conexão Amazônica, Tédio, Química (graças aos Paralamas Do Sucesso que a gente conhece Legião Urbana), marcaram. E, claro, Faroeste Caboclo (a saga recém-citada).
As Quatro Estações: calma, não é disco da "Sandy & Junior"! É o álbum de 1989 da Legião que sempre foi meu disco de cabeceira. É complicado falar dele justamente por marcar uma época de viradas na minha vida, como meu pai finalmente largando a bebida - 8) - e a primeira garota por quem tive uma forte ligação, não exatamente amor porque nem eu sabia que raios era aquilo naquela época, hehehe, tava mais pra amor platônico. O disco todo marcou fundo minha alma, mas Lobisomem Juvenil (da qual bolei o título deste post) é bem viajante e bacana de ouvir.
Bem, já tá ficando longo este post, então vou só resumir os discos seguintes que me tiraram do sério por causa da densidade de cada um deles. O V é um bom disco, embora seja sossegado demais. O Descobrimento Do Brasil tem uma QPEE dos anos 90, Perfeição. Mas, vou ser sincero: por que raios a banda lançou um disco tão down como A Tempestade? Pôxa, não consigo ouvir este disco.
Aqui não tenho o interesse em expor o que ele fazia quando não excursionava com a Legião, até porque o lance é o quanto contribuiu com o Rock no Brasil. Foquei este longo texto nas tantas músicas que ouvi ao longo de 12 anos (1984/1996). Logo, o que era dele era dele e pronto! Não temos nada a ver com a vida pessoal dele.
O dia 11/10/1996 foi o dia de um grande susto: era mais ou menos 12:30, ia pro colégio onde eu cursava Ensino Médio, quando a Jovem Pan anunciava a morte dele. Fiquei com um pessoal da minha turma cantando músicas da Legião uns 2 dias nos intervalos. Logo depois que fiquei sabendo que a pneumonia que o matou era decorrente de HIV, que ele contraiu na época do Quatro Estações mas escondeu de muitos (no melhor estilo Freddie Mercury). Como ele já cantou em Índios, "tentei chorar e não consegui".
Ele... Renato Manfredini Jr., vulgo Renato Russo... tá pra nascer um letrista de ponta como ele.
Beião n'alma d'oceis, e desculpe a densidade do texto, tava ouvindo Faroeste Caboclo, hehehe...
Leandro Passos
